Tiçonico

O Jordão, o Ruiz e o Pedro conseguiram o dinheiro para as entradas na tenda! venderam todas as cerejas que tinham apanhado da cerejeira do Sr. Costa.

Era tão raro o circo vir à aldeia. Tinham de o ver a qualquer custo.

Sábado bem cedo já estavam os três, junto ao rio, a combinar o final da tarde. Que bom ia ser! Da última vez que o circo ali estivera tinham visto um homem muito grande. O maior de toda a terra! De certeza que chegava às cerejas mais altas sem precisar de subir à árvore! Queriam vê-lo outra vez.

O Ruiz nada dizia. Na verdade estava ansioso por ver a menina dos chocolates. Desde que a conheceu nunca mais a imagem dela lhe saiu da cabeça. Os seus grandes olhos de azeitona, os cabelos com ondinhas tangerina e as sardinhas espalhadas pelo nariz e bochechas, faziam-lhe perder o sono durante muitas noites.

Desta vez tinha uma surpresa preparada para ela! Cortou um tronquinho do castanheiro do bosque, surripiou a navalha ao pai e lascou-o. Lascou durante dois longos meses até lhe dar a forma de um passarinho. Uma andorinha. Assim era a menina dos chocolates. Ia com o Inverno e voltava com a Primavera.

Andava magnetizado. Tinha este segredo juntinho ao coração. nem aos amigos contava. Não queria que eles o achassem piegas. Embrulhou a andorinha em papel mata-borrão e afundou-a no bolso das calças... Assim que os outros estivessem concentrados nos truques que o mágico ia fazer, pousava-lhe o embrulho no tabuleiro dos chocolates. Como se não lhe pertencesse...